Contos da cidade -


Sim, dali a pouco ela ia sair da escola. As provas antecipadas da reta final iam começar logo. Ela tinha medo disso. Justamente, ela não sabia o que era o fora da escola. Claro que ela tinha uma vida social normal como qualquer pessoa, saía, fazia cursos, tinha amigos. Mas, uma rotina fora da escola? Sim, lhe dava medo. Ela não sabia o que fazer depois que obtivesse o fim de curso. Esperar? Cursinho? Trabalho? Sair de casa e viajar? Com que dinheiro, e pra quê? Trabalhar numa ONG? Pixar muros, gastar todos os seus anos de estudo fora e vadiar? Ou pedir esmola no farol?

Estava tão confusa quanto ao seu futuro!
Justamente por que ela não conhecia seu presente. Não lembrava do seu passado. Então não podia nem sequer pensar no seu futuro.
Seu presente era simples. Escola o dia inteiro, e atividades alternadas nos dias. Pronto, isso era seu dia. Se tirasse isso, que restava?? NADA? Impossível!
Ela tinha que saber o que fazer depois dos estudos, ela sempre soube antes de todos o que queria fazer, e agora mais do que nunca se sentia agoniada por estes pensamentos que lhe cegavam o coração.
Ela sempre soube que aquilo era o que ela queria fazer, era aquilo o que ela entendia sem precisar estudar de verdade, aquilo que todos falavam que botavam pouca fé mesmo e ela não se importa, e agora isso não valia de mais nada, a sua essência, sua veracidade não estava mais presente, não existia mais, morrera.
E quanto mais ela ia fundo nos pensamentos, mais ela apertava sua mochila, e os que olhassem para ela, viriam uma menina com medo de qualquer um que pudesse roubar sua bolsa, que hoje em dia significa roubar a identidade, a vida, de uma mulher.
E se realmente ela fosse feita somente para procriação e cuidar do marido? NÃO! Isso a assombrava, queria ser alguém! Alguém para ela mesma, não para os outros. Não queria satisfazer aos outros com seu jeito, mas com seu talento, com suas habilidades, que agora tinham ido por água abaixo. Não sabia nem se tinha talento para alguma coisa. Pensava que era igual às meninas diferentes dela. Pelo menos na essência. Uma hora elas se cansam, casam, têm filhos, criam-nos, eles as largam, elas envelhecem, os maridos morrem, e elas herdam a pequena ou grande herança para gastar em roupas.
NÃO!! Era um pesadelo essa vida que poderia levar!! Ela não queria isso! Que vida horrível
Mas que vida afinal ela queria?


1 comentários:

Remi disse...

Leia Une Maison de poupée (Ibsen)