Contos da cidade -



A chuva estava mais fraca, mas ela continuava com o guarda-chuva. Enquanto passava por um mercado, queria largar todas as suas coisas e andar na chuva, mas estava sujo demais.
Talvez ela não ligasse para a vaidade, mas ligasse para a aparência de bem-estar consigo mesmo.
Com movimentos bruscos e mecânicos, desviava o guarda-chuva de uma árvore ou outro poste.
Sempre pensando onde estava errando. Sou eu o erro? Eu depositei energia demais no lugar errado? Dei valor demais a algo que não vale nada?
Começou a ficar contente quando lembrava de algo que seu namorado tinha contado no dia anterior, já que tinham feito o mesmo percurso juntos.
E ficou mais contente quando chegou em casa. Porém, cansada, fisicamente e psicologicamente.
Não sabia o que fazer. Enquanto fechava a porta da sala, meditava sobre o que iria fazer primeiro. Comer ou tomar um banho? Ir ver seus e-mails, com uma esperança morta que alguém tivesse lembrado de mandar um 'oi, como você está?' já não listava como uma das primeiras coisas a serem feitas. Decidiu ir comer.
Comia com lentidão e muita reflexão. Tornara-se indiferente não só às coisas que lhe poderiam fazer mal, mas também a tudo que poderia lhe causar qualquer outro sentimento.
Essa indiferença era no passado admirada por ela, e a desejou tanto que o desejo a consumiu e a tornou num monstro. Um monstro sem sentimentos, sem amigos.
Era isso o que queria chorar. Sua indiferença.



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