Contos da cidade -


























Quando o metrô chegou, viu que quase todos os vagões estavam cheios. Mas o que parou na frente dela parecia estar mais vazio. Ficou alegre por poder ficar de pé. E não encolhida e encoxada por velhas ou homens gordos. Queria pegar seu livro para ler, mas tinha de segurar tantas coisas. E os turbilhões de dúvidas na cabeça...
Saiu do metrô. E foi seguindo, ainda no automático para sua casa. Chovia mais forte. Muitas meninas agora já tinham desistido de encarar a chuva e esperar que seus pais ou maridos as viessem buscar de carro. Ela saiu, com raiva daquelas meninas, não por obstruírem a passagem, mas obstruírem a visão da mulher verdadeira, que não é consumida pela vaidade, mas a vaidade é um simples ornamento que ela utiliza quando lhe convém.


Abriu o guarda-chuva, não para se proteger da chuva, mas da realidade cinza e dolorosa daquela avenida, daquele momento.
Era um guarda-chuva grande, xadrez de preto e laranja, que o dentista tinha até bricando que combinava com sua calça. Ela simplesmente tinha feito um sorriso cansado de tanta falsidade para não ser chamada de 'sem-graça' e entrado na sala de consultório.
Enquanto passava pelos mesmos lugares que um dia antes tinha passado em êxtase puro com seu amor, sentia um vazio horrendo correndo pelo seu corpo, desdos pés às mãos que seguram o guarda-chuva. Sentia sono. Sono? Talvez não fosse. Ressaca? Muito menos, ela já tinha passado. Cansaço numa hora tão quebrada não era uma desculpa para querer fechar seus olhos!
Quando via que um semáforo estava prestes a fechar, não fazia questão de acelerar. Andava com a mesma vontade de querer deitar ali mesmo e ver a figura de seu salvador, do seu coração.

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