Contos da cidade -


E se ele realmente a amasse, o que faria para demonstrar? E se ela realmente o amava? Era verdade esse sentimento? Já havia sentido o amor outrora, mas nunca tão forte nem tão longo e preciso. Precisão. Era o que faltava no momento.
Enquanto andava, segurava o guarda-chuva com força, e com as duas mãos. Alguns meninos à toa diriam que ela era muito pequena para o guarda-chuva, mas ali, ela sentia que estava afastada de uma realidade da qual não queria fazer parte. Se sentia segura. Num mundinho pequeno, no qual ela não precisava mentir, nem ter que concordar para nunca brigar. Podia passar o dia calada só observando as flores ou o mar que ninguém a perguntaria se estava triste.
Quanto mais chegava perto da sua casa, mais triste ficava. Mas não havia porquês de chorar. Não havia força física para se formar uma lágrima. Mas havia uma força muito emocional. Não encontrava um porquê absoluto para chorar.
Eu tenho família, eu tenho uma boa escola, tenho abrigo, tenho comida, atividades, agora tenho um namorado que me ama pelo o que eu sou, e tenho...amigos ?
Se indagou e repetia essa palavra repetidas vezes no vácuo dos pensamentos: amigos.
Não, ela não tinha. Era só uma ilusão.
Ou se tinha, eles não sabiam quem ela realmente era.
Num lugar onde as aparências te movem, onde não compartilhar das modinhas e do mesmo pensamento diz que você é diferente e deve ser descartado, num lugar onde tudo tinha que ser do mesmo jeito, as pessoas se vestem do mesmo jeito, as meninas não têm diferença nenhuma, os meninos são um a cópia do outro, ela não entendia como encontrar um mínimo de ALEGRIA.
Claro que havia exceções, como aquele que sempre te suporta, ou o menino que você acha engraçado. Mas naquele momento nenhum servia para ela. Todos consumiam sua energia sem querer dar nem metade do que ela necessitava para se reabastecer.

0 comentários: