Contos da Cidade - PARTE 2

Seguia de volta para casa depois da aula de música. Lá, ela se sentia bem, confortável, na dela, não pensava em mais nada além dos exercícios que eram passados. Mas era uma pressão diferente, mascarada. A da escola era sem-vergonha, era jogada na cara dos alunos, e eles não podiam fazer nada. Mesmo seu professor disse que a escola nunca foi uma democracia.
A pressão que sofria era que ela tinha que ser não só boa, tinha que ser ótima, excelente, esplendorosa, brilhante, magnífica, e todos os outros adjetivos que os artistas recebem.
Ela só se dava conta disso no caminho de volta para casa, só percebia a existência dessa pressão fora do lugar onde estava.
Quando saía da escola, colocava seu mp3 no ouvido, e ouvia uma música muito dançante, que dava vontade de sair dançando na rua. Mas era contra as regras da normalidade social sair dançando na rua. Como isso? Um absurdo! Dançar de felicidade só porque uma música está te dando vontades? Não!!! Não pode, tem que se mostrar indiferente e fria às coisas do mundo.

Andava pela rua, muita gente nela. Andava no passo da música, e conforme a música mudava, ela mudava o passo.
Passou no terminal de ônibus, o seu não estava lá, então decidiu voltar a pé.
Enquanto andava, sentia que ela não tinha mais vontade de ser o que queria. Se demandava se aquele mesmo era seu sonho, seu talento, sua vida a ser feita. E se Ele tinha dado um outro destino para ela e ela tinha recusado-o? Ou se ela tinha simplesmente deixado de vê-lo? Não sabia mais se era apta para ser o que queria. Se o queria mesmo.
Lembrou-se que seu namorado questionara sobre a veracidade do desejo. Ela respondera que sempre tinha sonhado com aquilo, mas sempre tivera receio. Ele respondeu que com o tempo ela iria ganhar experiência e isso não seria problema para ela.
Desceu a rua, e as músicas já estavam mais calmas. Atravessou a rua correndo, onde havia faixa para pedestres, mas sem sinal para eles passarem.

"Mas será mesmo que eu nasci para isso? Eu digo...eu não consigo ser tão boa quanto milhões de meninos e meninas da minha idade já tinham uma carreira brilhante na frente de seus olhos, e eu mal estava no colégio e já queria sair logo da escola." Essa idéia a assustava também.

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