Contos da cidade - PARTE 1


Voltava do dentista. Chovia. Não muito, mas o suficiente para as meninas de chapinha ficarem horrorizadas com sua impotência a enfrentar a chuva e perder de 1 a 3 horas de árduo trabalho.
Ela, como não desfrutava desta perda de tempo, andava, mesmo com o guarda-chuva à sua disposição. Se perguntava se não era egoísta poder desfrutar de tal aparato enquanto outras meninas necessitavam dele urgentemente. Concluiu que não era, pois ela era mais prevenida que as meninas que necessitavam dele. Aos que tem muito será dado mais, e aos que nada tem, lhes será tirado o pouco que têm. Pensava ela.
Começou a ouvir seu mp3. Músicas banais, era mais para ver o tempo passar enquanto ela pilotava seu corpo no automático, e vagava pelas lembranças de um fim-de-semana estragado pela rotina semanal.
Percebia que nenhum homem tinha lançado uma tentativa de cantada para irritá-la mais do que já estava naquela tarde. Suas roupas não ajudavam. Estava mais artística do que mulher de verdade. Mas para ela já na importava, já tinha seu homem e ele gostava de tudo o que ela usava.
E percebia que ela também não prestava mais atenção em ninguém, nem em nada. Será que deste jeito, ignorando o universo ao seu redor, ele começa a te ignorar também?
No metrô, viu um casal de gays. Eles estavam tão felizes. E ela tão deslocada. Tinha um namorado que jurara estar apaixonado por todos os dias do futuro. Mas mesmo assim, invejou o amor daquele casal. Eles sofrem tanto mais que ela, e são mais felizes. Mas quem sabe ela não era do mesmo jeito quando estava com seu namorado? Não sabia responder, eram momentos tão só os dois.

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